segunda-feira, 8 de julho de 2013

Como tudo aconteceu 5- Final



Na noite de segunda feira, eu contei meu marido do resultado do exame e que no outro dia iria pro hospital. Que o mais certo era, que ficaria internada. Já deitada na cama, pedi ele um favor e ele respondeu q sim:
Então eu disse: Não sabemos o sexo, não sabemos o motivo da sua morte. Só sabemos q ele tinha uma alma, q um coração chegou a bater dentro dele... Eu queria pelo menos poder enterra-lo num caixão branco e isso não posso fazer. Então vamos rezar ou orar (ele já foi evangélico) um pai nosso. Somos os pais e isso podemos fazer!
Ele me perguntou: isso vai te fazer bem? Eu respondi q sim! E ele então segurou na minha mão bem apertado.
Eu fui falando e ele repetindo. As vezes ele se engasgava, gaguejava.. Tinha momento q a palavra não saia e senti q ele chorava.
Quando acabou, ele perguntou se eu estava bem. Respondi q sim pra deixa-lo tranquilo mas, por dentro estava esfaqueada, arrasada. Ele me abraçou e assim ficamos até pegar no sono.

02/07/2013 - terça feira
Este dia marcou minha vida!

 Acordei bem cedo, já não havia mais corrimento mas, de qualquer forma eu ira ao hospital pois, o exame de sangue (fibrinogenio) estava alterado.
Arrumei a bolsa com as roupa dos meninos, fruta, biscoito, leite, etc. A minha já estava arrumada (um conjunto de frio, um de calor, um vestido, (parece ser muito mas, sabia q não ganharia alta no outro dia) absorvente, toalha de banho e rosto, pente, sabonete, pasta e escova de dente, etc)
Deixei os meninos dormirem mais um pouco e tomei um banho demorado. Debaixo do chuveiro os pensamentos reviravam em minha mente. A barriga redonda me deixava agoniada, triste... Meu filho (a) estava ali dentro mas, sem vida. Eu sentia uma sensação de estar velando meu filho dentro de mim, sem poder vê-lo e hoje iria ser o enterro. Essa era a sensação, o sentimento q tinha.
 Deixei os meninos com uma prima, minha mãe foi comigo. O marido iria trabalhar até as 11:00 e iria voltar pra ficar com os meninos.
Deveria ter sido ao contrário, o marido ido comigo e minha mãe ficado com os meninos.  Mas, Deus sabe de todas as coisas e não quero falar sobre isso.
Cheguei no hospital e por sorte a mesma médica q pediu o exame na sexta feira estava de plantão...
O corredor tinha um senhor, uma senhora e uma mulher mais nova. Nenhuma com fisionomia de grávida. Também, não faria nenhum sentido, afinal ali era uma maternidade e uma hora iria ouvir choro de recem nascido, mulher grávida, coração de bb (é, ouvi muito). Aqueles aparelhos q parecem mais uma caixa de abelha).... Nem vou dizer o q senti ouvindo coraçãozinho de bb...
Depois de uns 20 minutos a tal médica me chamou, resumi toda a história só pra ela lembrar do meu caso mas, ela me conheceu bem na hora q eu entrei. E ela disse q ficou muito intrigada com meu caso e só não me internou na sexta mesmo porque tinha q seguir o protocolo do hospital....
Entreguei ela o resultado do exame e ela já foi logo dizendo: vou te internar agora!
Me deu uma camisola, pediu q tomasse um banho (ficar meia hora debaixo da água quente) e me mostrou o box q eu iria ficar.
....
Um hora depois...
A médica falou q era pra ir ao banheiro pois, a partir daquele momento eu teria q ficar uma hora sem me levantar. Ao voltar do banheiro, as 11:25 ela colocou dois comprimidos dentro do meu ultero pra estimular as contrações. Já era mais de uma hora da tarde quando veio o almoço, eu estava de jejum desde as 21:00 do dia anterior. A médica liberou a comida mas, disse q depois não poderia comer mais nada.
Comecei  comer e fui sentindo umas cólicas bem fraquinhas, q foram só aumentando com o tempo.
Por volta das 3 veio o café, uma outra médica disse q a minha liberou o café (era mentira) mas, confiei nela e tomei. Não tinha fome mas, a cada dor eu mordia o pão e aliviava um pouco. Depois do café, por mais uma hora fiquei em silêncio, apenas concentrando na dor sem pensar em nada.

16:00 hs
Senti as contrações mais fortes e foi aí q me dei conta q meu filho estava morto e separando de mim. Meu corpo começava a expulsa-lo e senti uma dor forte no peito, um vazio na alma e uma sensação terrível.
Quando um bb esta vivo, ele empurra pra baixo, ele ajuda vc a coloca-lo ao mundo. A dor das contrações são fortes mas, recompensadas quando vc escuta seu bb chorando, pega nos braços e vê q esta tudo bem com ele....
... no meu caso, a dor física era muito, eu sentia as contrações mas, meu filho não podia me ajudar, empurrar pra sair. A dor não seria recompensada com seu choro...
A cada contração eu apertava e empurrava minha barriga pra baixo.A dor emocional era maior ainda, a sensação de derrota, de vazio, angustia, separação....
A minha mãe estava sentada numa cadeira, bem ao meu lado. Um metro de distância. Ela estava calada.
Eu não deixei ela notar a minha dor.
Aguentei calada, sem gemidos ou lágrimas. Apenas eu, concentrando nas contrações, na dor, nos pensamentos e sentimentos de perda, de luto... no vazio q me tomava!!!
Quando senti meu filho sair, caí em prantos, abracei minha mãe e disse: saiu!
Já fui levando a coberta e o lençol... Ele (a) estava dentro da bolsa. A minha vontade foi de pegar, segurar nas minhas mãos mas, não pude.... minha mãe perguntou se podia chamar alguém e eu respondi q sim, apenas balançando a cabeça.
Escutei minha mãe contando a médica q o bb já havia saído. Ela já foi chegando e dizendo q eu deveria ter chamado, q ela me daria um remédio pra dor. E explicando q qdo o bb esta vivo não pode tomar nada mas, no meu caso eu poderia tomar remédio pra ajudar a amenizar a dor da contração e blá, blabla....
 Eu disse a médica q queria ver o bb. Olhou bem dentro dos meus olhos e perguntou: Tem certeza?
Eu disse q sim. Ela colocou uma luva e estourou a bolsa. Segurou ele nas mãos e me mostrou.
 A médica explicou q como ele morreu com 3 meses e meio, estava difícil definir o sexo. E nem quis opinar.
Pra mim não importava, foi meu ou minha por 3 meses e meio e eu pude carrega-lo dentro de mim por 4 meses e meio. Dependente do seu sexo, eu amei, cada segundo e vou ama-lo por toda minha vida.
Estava perfeitinho, orelhinhas, narizinho, dedinhos já formados... lindo, lindo. Tinha 11,7 cm e pesava 97 gramas.
Era perfeito como esse da imagem

Imagem retirada do Google

A médica colocou ele de volta em cima da cama e saiu. Minha mãe disse: q vontade de pega-lo na mão eu respondi q não. Eu tbm estava com essa vontade mas, não podia por causa da bactéria das nossas mãos. Ele seria levado pra estudo e a bactéria das nossas mãos poderia atrapalhar a descoberta do seu falecimento.
Eu arrependi de não ter pedido uma luva e segurado. Talvez, o sofrimento teria sido maior....
Eu fiquei ali, observando cada detalhe e já despedindo dele (a). A médica entrou e colocou dentro de um saco plástico. Foi triste, ver aquele ser tão pequeno, meu  filho (a) dentro de um saco plástico.
Uma enfermeira veio e me levou pro bloco cirurgico.



16:30 - A curetagem
Como havia tomado o café não pude tomar a anestesia venosa ( aquela em aerosol) no soro q faz dormir. Tive q tomar na coluna a Raquianestesia. Foi tranquilo, difícil foi ficar acordada sabendo q estavam tirando de dentro de mim a placenta de dentro q embalava meu filho durante os ultimos 4 meses e meio, enquanto eu escutava uma outra médica falar da sua gravides, da dor nas costas pelo peso da barriga, do bb mexendo dentro dela.
 Achei um absurdo, uma falta de ética, de respeito. Senti um nó na garganta, um vazio por dentro. Uma vontade louca de gritar com ela e mandar ela sair dali.
 Eu não podia, eu não tinha poder pra isso e talvez uma palavra minha me deixaria estéril pro resto da vida pois, as mãos delas estava dentro do meu ultero!
Meia hora depois aquela tortura terminava. Eu não sentia minhas pernas, sentia sede, sentia frio e uma coceira terrível. Era efeito da anestesia.
Sai do bloco, no corredor encontrei com minha mãe e com uma grande amiga q trabalha no hospital (ela é madrinha do João).
Fui pra enfermaria, um quarto enorme com 4 gravidas. 2 com infecção de urina, 1 com diabete gestacional e 1 com pressão alta.
Fiquei preocupada pois senti a perna direita mas, a perna esquerda demorou uma hora depois pra voltar ao normal. A anestesia foi acabar por volta das 22:00 da noite. Já estava com  muita sede e a coceira ainda permanecia. Chegou outra grávida no quarto. Essa era uma ex-aluna minha. Seu bb queria nascer com 7 meses de gestação.
Não consegui dormir, uma das grávidas conversava dormindo, um bb chorava muito no corredor, e o sentimento de tristeza, solidão, vazio, tomou conta de mim. Fiquei lembrando do rostinho do meu bb.
No dia seguinte tomei banho cedo, não estava com fome mas, como já fazia 15 horas q não alimentava e estava um pouco fraca tomei café. Pouco depois o médico passou, deu alta pra três mulheres e eu só ganharia alta quando o resultado dos exames ficassem prontos.
A tarde minha mãe foi embora. A minha amiga (madrinha do João) sempre q podia dava uma fugidinha do setor q trabalha e ia perto de mim. A noite chegou mais 2 gravidas ambas, com glicose alta. Fomos transferida pra outra enfermaria (o hospital esta em reforma). Confesso, q gostei em alguns pontos mas em outros odiei. Fiquei longe dos choros do bb, a gravida q fala dormindo não foi transferida pq estava com acompanhante, talvez esta noite conseguiria dormir.  Mas, por outro lado, não gostei. o lugar era mais frio, não podia ter acompanhante, o chuveiro não funcionava, tinha uma porta q dava pro meio do hospital (não no corredor, no terreiro mesmo) e esta porta não trancava. Passou a noite apenas encostada. Nem precisa dizer q não dormi nada com medo.
Entrei Terça de manha (2/7) e ganhei alta na tarde de Quinta (4/7). Dia 12 (sexta feira q vem) volto pra saber o resultado do exame, o possível motivo do aborto.

Recuperação
Fiquei de cama, sexta, sábado. Sem dor na barriga, apenas muita dor nas costas devido a anestesia. O sangramento diminuiu bastante. Ontem (domingo) foi a festa junina do Deivid e foi a primeira vez q ele dançou quadrilha. Como estava sentindo bem eu fui. Fui de carro, fiquei a maior parte do tempo sentada.
Hoje dia 8 segunda feira estou com dor na barriga, a barriga esta inchada. Tomei um Buscopan mas, não adiantou muito. Fiquei mais deitada a tarde toda.

Emocional
Ainda é forte a dor emocional, sinto um vazio dentro de mim. A pouco o João olhou pra minha barriga e disse: mão mimiu (irmão dormiu). Eu disse a ele q não tem mais irmão ali dentro mas, ele insistiu e eu acabei não falando mais nada. É difícil fazer "resguardo" repouso e saber q não tem o bb ali do lado. Meus peitos estão inchados, grandes e doloridos. Ainda não retirei as roupas da bolsa q levei pro hospital, ainda não retirei as roupas de gravida do meu guarda roupa. E sei q dentro dele tem uma caixa de roupas de bb q não será usada nos próximos meses...

Agradecimento
Quero agradecer a Deus por esta presente na minha vida, por me carregar no colo neste momento. Meu marido q prometeu estar do meu lado na alegria e na tristeza e por mais q ele esteja triste me apoia, me dá forças pra continuar. Meus filhos, sem eles não sei o q seria de mim. Meus pais q são a base de tudo. Meus irmãos (as) e parentes q estão orando e dando forças mesmo q de longe. Minha amiga comadre q esteve sempre presente e demonstrou q a verdadeira amizade existe e q amigas não é somente pra horas divertidas e alegres. E vcs minhas amigas q mesmo do outro lado da telinha, sem ao menos nos conhecer pessoalmente esta sempre aí, apoiando, me deixando uma palavra de conforto e carinho. Deus abençoe!

 Enfim, meu tão sonhado bb partiu, ao meu ver partiu muito cedo, hj tenho dois anjos na terra e dois no céu. 
Sei que preciso superar as lágrimas, por mais difícil que seja, e readquirir aos poucos o sorriso que fugiu. O sorriso que meus filhos me pedem, com apenas um olhar!!!

Eu creio....









5 comentários:

  1. Lili, seu relato é muito emocionante e eu penso que é bom que você tente expressar tudo o que sente nessas palavras. Nós não nos conhecemos pessoalmente, mesmo virtualmente temos pouco contato, mas quero que saibas que estou rezando muito para que você supere a dor desse momento e volte a sorrir para a vida. Deus esteja com você.

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  2. poxa amiga senti cada palavra triste que li mas fiquei feliz que vc foi ver a quadrilha do seu filho ele deve ter ficado muito contente ,estarei sempre aqui orando pra sua dor passar logo pois a vida segue com sofrimento,dor angustia mas segue ja que tem familia,filhos marido e amigos maravilhosos .bjocas fica com DEUS fica bem e SORRIA SE POSSIVEL. :)

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  3. Com certeza amiga,Deus esta do seu lado sempre, é difícil nesse momento,mais pode ter certeza que vc pode contar com a gente ! força querida
    Bjinhos

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  4. Poxa amiga, li todos os posts e não consegui conter as lágrimas.
    Fiquei me lembrando do meu filho que hoje tem 2 aninhos.
    Pense nos seus dois filhos querida, força viu Deus está do seu lado, sua família também.
    Fique em paz, grande beijo

    http://viniciusmamaequedisse.blogspot.com.br/2013/07/o-que-tem-no-kit-primeiros-socorros-do.html

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  5. amiga Lili a dor é inevitável que
    sofrimento meu Deus amiga
    que Deus te fortaleça
    para retomar sua vida e cuidar da sua
    família.
    Deus te abençoe

    linda bjs

    http://sermamaepelasegundavez.blogspot.com.br/

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